Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Meu Blog Maternidade. Aqui vou registrando meu aprendizado do cotidiano de mãe. Minhas percepções, desafios, emoções, acontecimentos e sensações únicas da minha jornada maternal. Tenho duas filhas e um filho, três sementes, frutos, presentes AMOR
Observar o Arthur se divertindo em atividades que tive o privilégio de viver na infância é gratificante. O paulista com sangue sertanejo aprecia a caatinga onde nasci. Cavalgar, nadar, enveredar pela caatinga, participar da lida do gado, colher umbu no pé, rir dos causos, ouvir as “estórias” de assombração no alpendre, comer as delícias do fogão a lenha, vislumbrar o céu estrelado, dar a bênção ao levantar-se, na hora de dormir, na chegada e na partida...
Nossas férias no sertão foram marcadas por experiências tão diferentes de sua realidade urbana. Todos ficam admirados com seu jeito “desenrolado.” Ele encantado com o rastro da onça, do guará e da raposa. Lá no terreiro de vozinha, o camaleão no juazeiro, o tiú, a cobra passando pelo caminho da roça, os pássaros fazendo festa no amanhecer e entardecer ...as cavalgadas pelas veredas do sertão. Num ambiente que para muitos é hostil, ele estava em casa. Como diz meu tio: “está na essência”
Arthur tomou banho de chuva numa tarde da viagem. Que entrelaçar de memórias e sensações, da mãe e do caçula. O cheiro da água molhando a terra, o sorriso dos sertanejos com essa bênção e a alegria contagiando as casas, as ruas, os sítios e as cidades. Embora cada filho tenha sua singularidade, nossos traços neles revelam semelhanças. Nesse momento registrado, eu fiquei emocionada em reconhecer meus traços no caçula. Essa imagem retrata uma conexão de alma de gerações.
Viva as águas das saudades que somos
Fico pensando que se o dia tivesse 48 horas, ainda assim teríamos a impressão de que faltaria tempo para todas as atividades, tamanha é a carga das nossas demandas. Sufocadas pela rotina sobrecarregada muitas mulheres estão sendo afetadas pelo burnout. Chegam no esgotamento mental que adoecem. Eu já conversei com tantas mães e notei pelo olhar, fala e gestos, o cansaço exalando. Muitas falando da culpa que sentem por não conseguirem realizar tudo. Conciliar esse mix é complicado e vamos sendo corroídas por medo, culpa, estresse...
Quantas mães depois de enfrentar uma noite mal dormida se levantam cedo para levar a criança na creche e seguir para o trabalho, mesmo o corpo pedindo sono e descanso? Quantas delas são sozinhas nessa tarefa da educação e cuidado com os filhos? Algumas porque realmente não tem companheiro e outras que, mesmo tendo, não contam com essa participação. Salvo algumas exceções, ser Pai é menos árduo que ser Mãe já que o peso maior está em nossos ombros, aliás, em todo corpo.
Uma das situações que vivi retrata bem o que muitas de nós passamos. Certa vez, o ramal da minha colega de sala do trabalho tocou e eu atendi, avisei ao superior do outro lado da linha que ela chegaria mais tarde por conta consulta de pré-natal. Fui levar o contrato do imóvel que ele solicitou e ao me aproximar ouvi sua fala com o outro diretor: “é assim na gravidez, quando a criança nasce é licença e depois vem pediatra, criança que adoece e outros etcs.”
A funcionária a que ele se referia marcava suas consultas no primeiro ou último horário do dia para atrapalhar o mínimo possível o expediente. Quantas mulheres são discriminadas na busca por emprego pelo fato de serem mães? Eu já trabalhei com muitas mães em equipes e nunca conheci profissionais mais comprometidas. Quantas mães não contam com rede de apoio e acabam abandonando seus projetos?
Existe uma pressão de que é função da mãe ser essa “mulher maravilha.” Nos cobram êxito em tudo. Não sei vocês, mas eu não dou conta de ser esse algoritmo da perfeição. Há uma cobrança algoz para sermos excelentes na profissão, na maternidade, nos padrões de beleza, para estarmos sempre exalando felicidade e etcs. Até um robô daria pane com tanta coisa. O sistema entraria em colapso!
Para não colapsar na minha agenda tenho estabelecido pausas dentro dos corres. Atualmente eu tenho o privilégio de trabalhar mais próximo de casa e flexibilidade no expediente. Na pauta tenho trabalho, casa, escola, futebol do caçula e as variáveis que surgem no caminho. O desafio é intercalar o meu cuidado dentro desse enredo. Tenho me esforçado para ampliar as frequências da caminhada, momentos para ler, idas ao clube de livros e o encontro mensal com amigas, sem marido e filhos. Ainda que eu falhe porque imprevistos acontecem, minha meta contínua é ter disciplina com o meu essencial tempo.
E você tem se colocado como prioridade? Sei que é difícil, principalmente para a maioria de nós mulheres/mães. Diante de tanta falta, ser presença para si é um ato de coragem e uma conquista de poucas, mas não deveria ser assim. Esse meu momento de escrita, por exemplo, é uma pausa sagrada para registrar essas percepções que pipocam aqui dentro e que sei são vivenciadas por tantas. Cada uma com seu diferencial, vamos nos encontramos nessa pluralidade da partilha de dores e afetos.
Os passos que rezam e as folhas da caminhada
Mais cedo do que imaginei, o quarto ficou vazio. Espantou-me a coragem dela, no auge dos seus 14 anos decidir de maneira tão determinada essa mudança. Em nenhum instante ela hesitou durante esse processo de preparação. O desejo que palpitou em seu coração foi ganhando forma e força. A intensidade de cada passo até o dia da partida. Teve despedidas pontuais, orações e abraços. E dia 20/06/23 embarcamos para a jornada divisor de águas, dessas que marcam vidas. Ela completou 15 anos no seu novo quarto, abraçando a oportunidade que escolheu.
Desde 2022 eu a observava avançar em seu objetivo a cada aula de inglês, com o melhor professor do mundo, nas conversas com os professores de sua antiga escola. Sua dedicação nas aulas de inglês prossegue e logo o ano letivo Norte começará. Ela também está tendo aulas de música com um sensacional professor indicado por pessoas especiais. Dessas conexões presentes da vida. Que bênção poder contar com personagens que fazem diferença e tanto nos auxiliam nas conquistas da intensa agenda Sul e Norte.
Seu quarto está vazio e repleto ao mesmo tempo. Contemplo o mapa na parede, os livros da sua estante que ainda não foram enviados, as roupas, o perfume na escrivaninha, os cristais, as canetas e outros elementos que sorriem na sua ausência revelando que sua marca é atemporal. Suas almofadas e pelúcias tem seu cheiro exalando a sensibilidade de quem toca os espaços com uma refinada graça.
Olho para a Nossa Senhora que abençoa a porta do seu antigo quarto e sei que a Mãe Santíssima te acompanha. Abro seu guarda-roupa, que já foi da sua irmã primogênita, para que o vento que sopra da janela circule pelas gavetas e todos os guardados. Sento-me na poltrona abraçada com seu agasalho de Salem e posso sentir a potência da ancestralidade que nos enlaça. A reza da Mãe, da avó e bisavó e de outras que nem conhecemos, vive nessa comunhão da fé e do sentir. Distância e proximidade estão aqui nesse vento que canta saudade e consolida a minha certeza de que a construção de um sonho tem a força do amor.
Agradeço pela acolhida na casa da sua irmã e do Eric, pela alegria dos seus sobrinhos Peaches e Damian com tua presença. Fecho os olhos e sou tocada pela brisa que sopra do mar e passeia pelo jardim e quintal da casa, estou aí nas janelas, no banco, nas plantas, no aroma do alho fritando no azeite e na oração de todos os instantes. Faço morada nos passos na caminhada da praia, na pedra da vovó sentar e rezar ouvindo o canto das ondas. Nessa música da imaginação, lembro das cores do outono que logo chegará por aí e da Primavera por aqui.
Vamos florescendo nos ciclos das estações. Seguirei sendo ninho que incentiva voos. Como sempre disse para a Bruna, nossa proximidade é elementar, é assim também com a Isabelly e Arthur. Minhas preciosas meninas e menino, a estrada é longa, sabemos. Nela a saudade latejará lá e cá, retratando a imensidão do nosso laço. Cada etapa alcançada será precedida por outras e nesse enredo tem adversidades e conquistas. Cultivem a perseverança, a alegria e a fé. Somos alimentadas pela energia sagrada do amor que transcende fronteiras.
Voe Isabelly. É tempo de transmutar e você já é protagonista da sua constelação.
Já escrevi no meu Blog Maternidade sobre o tempo da mãe, relatando sobre o encontro do Clube de Leitura que participei na Martins Fontes na Paulista. A corrida agenda maternal acaba por nos afastar de nós mesmas, em diferentes ciclos. No puerpério então, muitas de nós passamos por momentos de extrema solidão. À medida que os filhos crescem, acabamos priorizando a rotina de atividades das crianças. Ainda assim, iniciar esse processo de resgatar o nosso tempo é prioritário também.
Como nos colocar como prioridade? Com quem ficar os filhos para uma saída com amigas? Conseguir esse espaço para um café ou qualquer outra atividade é um desafio. Quando nos reunimos com outras mães para partilhar experiências, observo algumas semelhanças mesmo diante das diferenças do contexto de cada família. E se tem um aspecto que todas abordam com frequência é o quanto esses encontros são importantes. Muitas falam da emoção de sentir-se acolhida nesses momentos de troca.
Para muitas mães ter uma rede de apoio é apenas um sonho longínquo. Conheço algumas que tem e tantas outras que não. Já ouvi até que nossa “obrigação” é mesmo ficar em casa cuidando do lar e das necessidades das crianças: “quando eles crescerem, aí sim pode voltar a sair.” Reflita sobre o tanto que essa fala retrata. Sofremos pressão de todos os lados que nos afligem com culpas e cobranças. Desdobramo-nos em várias para tentar dar conta de tudo e não nos incluímos nesse roteiro. Até adoecermos pelo excesso. Quantas de nós gritam exaustão pelos poros?
Ando refletindo muito sobre o peso que carregamos. Falo no plural porque tenho amigas, cada uma com seu diferencial, caminhando nessa estrada árdua e aprendiz que é a maternidade e seus entrelaçamentos. Ser escuta me ensina tanto. Às vezes, nada precisamos dizer e no silêncio nos compreendemos. Em outras damos sim vozes aos nossos anseios, dores e relatos, compartilhando nossas vivências, respeitando nossas singularidades.
Contar com pessoas nas quais confiamos e comungamos afeto é uma bênção. Na maturidade vamos refinando as relações e se uma certeza, das poucas que tenho, é de que os meus laços afetivos são raros e sagrados. Gratidão Meninas pela noite de ontem, pelo vinho, risos, lágrimas, escuta, histórias, abraços e tantas sensações que não há palavras capazes de descrever. E sim, eu vou cada vez mais priorizar o tempo da proximidade dessa Mãe Maria.
E sim eu bebi o vinho e apreciei! Até a próxima taça!
Iniciando a caminhada na maturidade do vinho
A morte costuma assombrar os viventes. Muitos não ousam falar seu nome e penso que deveríamos ao menos tentar encarar de outra forma, afinal, ele está presente embora represente a ausência. Quando alguém próximo morre um silêncio profundo se acomoda em meus sentidos. Até uma palavra de conforto é difícil pronunciar porque quem a ouve sequer pode escutar nesse momento. Já me peguei em velórios observando as cenas dos abraços e refletindo sobre como esses abraços não existiram no passado da pessoa que está ali no caixão. Disseram-me que passa um filme em nosso momento de partida e fico pensando nos personagens que habitam essa despedida.
A despedida é também de quem fica ainda por um tempo que não temos como estimar. A morte está conosco agora, nesse instante, porque morrer e viver estão entrelaçados. O corpo que vira cinzas ou que vai para debaixo da terra é uma matéria morta que nos chama a olhar para nossa passagem efêmera. Ainda assim tem muito de eterno na morte porque quem vai fica vivo palpitando na saudade dos nossos passos. Tenho tanto dos meus avôs e avó em meu cotidiano. Do riso solto de padrinho-avô, dos cuidados e orações de minha madrinha-avó e dizem que a sensibilidade de vozinho faz morada em minhas ações. Oxalá que sim e que esses retratos se perpetuem nas próximas gerações.
Falar sobre a morte com as crianças é difícil. Ao ver minha tristeza pela morte da Rita Lee, o meu caçula Arthur me abraçou e eu disse que todos nós chegaremos nessa hora. Ele reagiu como a primogênita dizendo que isso não vai acontecer nunca. Não consegui alongar o diálogo, porém sinto que é necessário retomar essa pauta com frequência para ir preparando esse terreno árido que também pode se tornar fértil. Como fertilizar a aridez da morte? É um desafio que me proponho a exercitar, iniciando pelo que a “perda” dos meus avós significou.
Sempre ouvi: perdi minha avó (ou outro ente querido). O eco da palavra perda evidenciando a dor extrema que sentimos. Um pesar de toneladas que cansa nossa estrutura. Até os ossos doem, os músculos inflamam. Sintomas do luto que cada um passa de um jeito e vai moldando os dias até irem suavizando aos poucos. Há quem diga que a ferida segue sangrando para sempre e eu imagino que sim. As minhas seguem cicatrizando. Como fazer essa abordagem da perda que é tão dolorida? Não há receita mágica para lidar com a morte, mas se apenas evitarmos o assunto vamos criando uma visão hostil do que é uma realidade da existência.
Observar a morte como um personagem pode ser uma maneira de trazer certa leveza para facilitar a conversa. O cinema pode ser uma fonte, assim como a literatura. Pensei na Morte do Gato de Botas, no recentemente filme que assistimos em que o menino perdeu o pai, no poema A morte absoluta de Manuel Bandeira que a Isabelly leu por ocasião de uma atividade escolar e fui relembrando outros filmes e livros ...contar minha própria experiência com as mortes dos meus avós...e aproveitar melhor as oportunidades para dialogarmos sobre essa passagem perene da vida. Será uma forma de fertilizar a aridez? Tentarei...
A morte é o fim? Ou pode ser também um começo?
sou estrada de saudades no ciclo morte e vida
#tbt dessa mãe que não existe mais. A Mãe da Bruna, não é a mesma da Isabelly, nem a do Arthur. A mãe dessa foto estava aflita e feliz ao mesmo tempo. A mãe dessa foto tinha 19 anos e carregava em seu colo a menina bebê mais linda de que se tem notícia. Essa mãe morava em 2 cômodos e estava de licença maternidade do seu trabalho de recepcionista e ganhava o salário mínimo. A criança usava roupas doadas de outros bebês que também foram doadas para outro. Sim, não houve dinheiro para enxoval e nem teve chá de bebê.
A mãe dessa foto tem muitas cicatrizes e um caminho todo pela frente para seguir aprendendo com cada estação. A maternidade é também árdua e me ensina que o Amor é uma fortaleza cotidiana que vamos exercitando em diferentes retratos.
Quantas Mães numa única Mãe! E a bebê hoje já é mãe também.
Em março, mês do Sol em meu signo, não consegui escrever em meu Blog Maternal. E olha que o mês foi longo e intenso. Já estou em um novo ciclo e ainda que desfolhada nesse inicio do outono, com tantas reflexões pipocando pelos poros sensoriais, pelos sonhos que afloram passagens de outrora me convocando a revisitar acontecimentos que talvez eu precise ressiginificar ... o cotidiano caminha, com as atividades rotineiras e outras que surgem. Imprevisto na agenda de mãe é recorrente e muitas vezes no plural. E o tempo da mãe?
Sim, sentimos falta do nosso tempo. E precisamos dele. E quero registrar aqui que eu consegui reservar um tempo em março para participar de um encontro que amo e me esforçarei para ampliar essa participação. Clube de livros, um espaço para partilha da fertilidade que o livro é capaz de cultivar. E que precioso foi o “clubão” com a Tatiana Lazzarotto sobre seu ímpar Quando as Árvores Morrem. O evento aconteceu na Martins Fontes da Paulista, no mezanino cercado de livros, sorrisos, vinho, lágrimas, brigadeiro, falas e sensações que seguem palpitando. Sobre luto, vida, morte, memórias e o que se torna eterno. Leiam!
Na calçada em frente à livraria, embaixo da árvore que lá resiste, eu fiquei contemplando as luzes da Paulista e me agradecendo por ter me permitido esse momento. Demorei-me ali instantes sagrados de um abraço enquanto meus olhos marejados passeavam pela paisagem. Meus passos rumaram para casa com o coração repleto de gratidão. O céu da noite tinha estrelas longínquas que minha visão turva ainda enxergava. Tenho esse hábito de janelas, as de carros, metrô, ônibus, consultórios, casa e onde quer que eu tenha a sorte de encontrá-las.
Mãe precisa de sua janela de tempo. Por mais que tenhamos tantas demandas dos cuidados maternais e tantos outros, precisamos nos cuidar também. Um encontro com nossa companhia, para ouvir uma música, ler um livro, ver um filme, escrever, cuidar das plantas...ou um café com amigas, um clube de livro, aquilo que você curte. Isso nos faz falta sim. Esse distanciamento daquilo que apreciamos nos prejudica. E isso não nos fará menos Mãe. Por mais difícil que seja ter uma rede de apoio, eu prometi que a partir desse giro do Sol em meu calendário é chegada também a hora de me reencontrar.
Sábado, manhã de outono, eu escrevi ouvindo canções que amo. Meu tempo.
Na agenda das mães, as festas infantis figuram no calendário de todos os anos. Aniversários de primos (as) e amigos (as). Do simples bolo em casa aos eventos em salões de festas ou buffet, vamos colecionando encontros desses momentos especiais. Nem sempre conseguimos realizar uma festa e convidar todas as pessoas das nossas relações, em alguns anos já substituímos por experiências, o que tem se tornado frequente para muitas famílias.
“Faz nem que seja um bolinho em casa para não passar em branco.” É uma frase que já ouvi bastante. Celebrar a vida para renovar o renascimento anual é inspirador. Aliás, nem que não seja na data específica, quando definimos um dia para o parabéns e chamamos pessoas queridas para festejar conosco, anunciamos um novo ciclo. Dependendo das circunstâncias nem sempre isso é possível e explicar o motivo é importante para que eles vão aprendendo sobre prioridades e escolhas.
Ontem foi dia de festa de amigos, uma dupla de irmãos de fevereiro que muito estimamos. Observando a foto da Bia pequena no quadro, eu fiquei lembrando outros aniversários dos dois que já participamos. As meninas pulando corda, os meninos jogando bola. E outras brincadeiras das meninas que não cansavam de brincar. Os meninos jogaram tanto, que imagino que alguns estejam como meu Arthur está hoje, exausto. Ele que nunca para, que nunca dorme durante o dia, está num sono profundo.
Programar uma festa com brincadeiras que façam com que todos participem é uma maneira de transformar a comemoração em uma data inesquecível. Contratar monitores para realizar as atividades da festa é uma estratégica que auxilia os pais e convidados a também curtirem o aniversário. Ontem fiquei observando as crianças brincarem e pensando que vale o esforço para reuni-las e cultivar essas memórias. O tempo anda ligeiro, mudanças acontecem e logo mais a comemoração terá um novo roteiro.
Fiquei refletindo sobre as festas que já fiz em casa, com muitos correndo pela sala, brinquedos espalhados por todos os cantos, bexigas estouradas, riso e choro na hora das tretas, sim porque eles brigam também, das chegadas e partidas dos convidados, dos bolos e temas, das lembrancinhas, dos churrascos e da alegria na hora de cantar os parabéns. Os presentes nem existem mais, já foram todos doados, mas tenho certeza de que na memória deles e nossas, a presença de quem veio ficou marcada. E presença é o que faz diferença em nossas vidas.
um retrato de saudade. Aniversário Arthur com a família reunida. 2016
2022: Aniversário Peaches, Damian, Arthur e Bruna. Gerações reunida
Um roteiro conhecido de muitas mães e pais que tem que se contorcer de muitas formas para atravessar essa fase. Nosso ano letivo tem duas férias anuais e nem sempre as dos pais coincidem com esses períodos. Não é fácil contornar essa ausência e nem sempre temos condições de programar passeios ou viagens. É um privilégio poder tirar uns dias de folga enquanto eles estão de férias escolares.
Eu digo isso aos meus porque conheço muitos pais que sequer tem recursos financeiros para uma ida ao teatro, cinema ou até um parque. Uma viagem de férias é um sonho nem sempre possível de realizar. Para uma parcela significativa da população falta até o básico. Muitas mães que dependem de creches e escolas tem que recorrer a parentes e amigos nas férias para driblar as dificuldades.
No meu caso, ainda passo sufoco nas férias escolares, mesmo hoje tendo como programar melhor minhas pausas. Eu já ouvi dos meus: “mãe porque você não é professora para tirar férias junto comigo?” É uma equação complicada para os pais que tem que se dividir e tentar alguma programação diferenciada, nem que seja na cidade onde moramos.
Para quem pode viajar tudo fica mais caro nessa chamada alta temporada. Amarrar as férias apenas para julho e janeiro é um padrão que encarece e sufoca. Ano passado eu viajei em abril e o valor ficou muito mais acessível do que se eu tivesse ido em julho. Como a viagem foi programada com muita antecedência tive como negociar com a escola a reposição dos trabalhos. Na chamada baixa temporada as rodoviárias, aeroportos e outros lugares não ficam lotados como na alta, além de outros benefícios.
Aqui em São Paulo temos muitos atrativos e nem sempre conseguimos aproveitar. Uma boa dica são as atividades das unidades do Sesc que oferecem atrações esportivas, de lazer e culturais. Sempre tem uma programação especial de férias. Programas como o Recreio nas Férias, que acontece em Osasco, e que dá oportunidade para muitas crianças realizarem atividades de lazer nesse período, são excelentes iniciativas.
O clima das férias nem sempre é ensolarado. Em pleno janeiro chuvoso e até frio nesses dias aqui em São Paulo, um dos meus filhos, o caçula de 10 anos, está passando férias no sertão de Pernambuco, no sítio de sua bisavó, na companhia dos meus tios e primos. Além de ser uma experiência enriquecedora por tudo que ele está vivendo lá, é uma estratégia que me deixa segura em saber que ele está se divertindo na presença de pessoas que estimamos muito. É a primeira vez que ele viaja sozinho para tão longe. Ciente de que a saudade também ensina já estou pensando na programação das próximas férias.
Com esforço vamos tentando por aqui construir memórias afetivas das férias. Oxalá mais famílias consigam viver experiências valiosas nessa e em outras fases da vida. Todas as etapas maternais têm elementos árduos e aprendizes. Ser Mãe é um exercício dolorido e incrível.
o Menino no sertão
O resultado das eleições está consagrado pelas urnas. Nosso sistema eleitoral é ágil e credível, um exemplo para o mundo. O país está dividido, é o que ouvimos. Temos dois lados bem diferentes, ouço com frequência. Vivemos em uma Democracia e que continuemos assim. É preciso aceitar as diferenças e, infelizmente, uma parcela de eleitores do que foi derrotado, segue agindo de forma truculenta e incentivando a violência entre todos.
Em todos os ambientes e nas escolas têm acontecido episódios temerosos, reflexo do que eles estão convivendo em suas casas, igrejas e comunidades. O episódio a seguir ilustra bem:
Dia 31 de outubro, Dia das Bruxas e do Saci, as crianças e adolescentes puderam ir fantasiados para a escola para brincar o Halloween (foi um convite da escola e a participação foi voluntária). Uma criança de 12 anos disse a minha filha de 14: “estou fantasiado de assassino do Lula e quero mesmo matar ele.” Ela saiu de perto, como tem feito sempre. Ela tem me contado que muitos meninos estão agindo de forma intolerante. Isso tem afastado muito os alunos e corroendo o ambiente estudantil.
A fala dessa criança ou, pré-adolescente, como eles gostam de ser chamados, diz muito sobre o comportamento da sua família. Fico refletindo em como as crianças e os jovens estão sendo impactados com essa postura hostil. Esse derby eleitoral escancarou de modo contundente o quanto é perigoso e doentio o preconceito religioso, social, racial, regional, linguístico e todas as discriminações que diminuem o respeito e ampliam a violência.
Ficam as perguntas para os pais desse e tantos outros:
O diferente deve ser eliminado? Ou devemos respeitar as diferenças?
Devemos promover o ódio? Ou nos esforçar para a Paz nas relações?
Qual o caminho você escolhe?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.