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O voo da menina

por Ivone Neto, em 25.08.23

Mais cedo do que imaginei, o quarto ficou vazio. Espantou-me a coragem dela, no auge dos seus 14 anos decidir de maneira tão determinada essa mudança. Em nenhum instante ela hesitou durante esse processo de preparação. O desejo que palpitou em seu coração foi ganhando forma e força. A intensidade de cada passo até o dia da partida. Teve despedidas pontuais, orações e abraços. E dia 20/06/23 embarcamos para a jornada divisor de águas, dessas que marcam vidas. Ela completou 15 anos no seu novo quarto, abraçando a oportunidade que escolheu.

Desde 2022 eu a observava avançar em seu objetivo a cada aula de inglês, com o melhor professor do mundo, nas conversas com os professores de sua antiga escola. Sua dedicação nas aulas de inglês prossegue e logo o ano letivo Norte começará. Ela também está tendo aulas de música com um sensacional professor indicado por pessoas especiais. Dessas conexões presentes da vida. Que bênção poder contar com personagens que fazem diferença e tanto nos auxiliam nas conquistas da intensa agenda Sul e Norte.

Seu quarto está vazio e repleto ao mesmo tempo. Contemplo o mapa na parede, os livros da sua estante que ainda não foram enviados, as roupas, o perfume na escrivaninha, os cristais, as canetas e outros elementos que sorriem na sua ausência revelando que sua marca é atemporal. Suas almofadas e pelúcias tem seu cheiro exalando a sensibilidade de quem toca os espaços com uma refinada graça.

Olho para a Nossa Senhora que abençoa a porta do seu antigo quarto e sei que a Mãe Santíssima te acompanha. Abro seu guarda-roupa, que já foi da sua irmã primogênita, para que o vento que sopra da janela circule pelas gavetas e todos os guardados. Sento-me na poltrona abraçada com seu agasalho de Salem e posso sentir a potência da ancestralidade que nos enlaça. A reza da Mãe, da avó e bisavó e de outras que nem conhecemos, vive nessa comunhão da fé e do sentir. Distância e proximidade estão aqui nesse vento que canta saudade e consolida a minha certeza de que a construção de um sonho tem a força do amor.

Agradeço pela acolhida na casa da sua irmã e do Eric, pela alegria dos seus sobrinhos Peaches e Damian com tua presença. Fecho os olhos e sou tocada pela brisa que sopra do mar e passeia pelo jardim e quintal da casa, estou aí nas janelas, no banco, nas plantas, no aroma do alho fritando no azeite e na oração de todos os instantes. Faço morada nos passos na caminhada da praia, na pedra da vovó sentar e rezar ouvindo o canto das ondas. Nessa música da imaginação, lembro das cores do outono que logo chegará por aí e da Primavera por aqui.

Vamos florescendo nos ciclos das estações. Seguirei sendo ninho que incentiva voos. Como sempre disse para a Bruna, nossa proximidade é elementar, é assim também com a Isabelly e Arthur. Minhas preciosas meninas e menino, a estrada é longa, sabemos. Nela a saudade latejará lá e cá, retratando a imensidão do nosso laço. Cada etapa alcançada será precedida por outras e nesse enredo tem adversidades e conquistas. Cultivem a perseverança, a alegria e a fé. Somos alimentadas pela energia sagrada do amor que transcende fronteiras.

Voe Isabelly. É tempo de transmutar e você já é protagonista da sua constelação.

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publicado às 20:21

A morte é o fim?

por Ivone Neto, em 24.05.23

A morte costuma assombrar os viventes. Muitos não ousam falar seu nome e penso que deveríamos ao menos tentar encarar de outra forma, afinal, ele está presente embora represente a ausência. Quando alguém próximo morre um silêncio profundo se acomoda em meus sentidos. Até uma palavra de conforto é difícil pronunciar porque quem a ouve sequer pode escutar nesse momento. Já me peguei em velórios observando as cenas dos abraços e refletindo sobre como esses abraços não existiram no passado da pessoa que está ali no caixão. Disseram-me que passa um filme em nosso momento de partida e fico pensando nos personagens que habitam essa despedida.

A despedida é também de quem fica ainda por um tempo que não temos como estimar. A morte está conosco agora, nesse instante, porque morrer e viver estão entrelaçados. O corpo que vira cinzas ou que vai para debaixo da terra é uma matéria morta que nos chama a olhar para nossa passagem efêmera. Ainda assim tem muito de eterno na morte porque quem vai fica vivo palpitando na saudade dos nossos passos. Tenho tanto dos meus avôs e avó em meu cotidiano. Do riso solto de padrinho-avô, dos cuidados e orações de minha madrinha-avó e dizem que a sensibilidade de vozinho faz morada em minhas ações. Oxalá que sim e que esses retratos se perpetuem nas próximas gerações.

Falar sobre a morte com as crianças é difícil. Ao ver minha tristeza pela morte da Rita Lee, o meu caçula Arthur me abraçou e eu disse que todos nós chegaremos nessa hora. Ele reagiu como a primogênita dizendo que isso não vai acontecer nunca. Não consegui alongar o diálogo, porém sinto que é necessário retomar essa pauta com frequência para ir preparando esse terreno árido que também pode se tornar fértil. Como fertilizar a aridez da morte? É um desafio que me proponho a exercitar, iniciando pelo que a “perda” dos meus avós significou.

Sempre ouvi: perdi minha avó (ou outro ente querido). O eco da palavra perda evidenciando a dor extrema que sentimos. Um pesar de toneladas que cansa nossa estrutura. Até os ossos doem, os músculos inflamam. Sintomas do luto que cada um passa de um jeito e vai moldando os dias até irem suavizando aos poucos. Há quem diga que a ferida segue sangrando para sempre e eu imagino que sim. As minhas seguem cicatrizando. Como fazer essa abordagem da perda que é tão dolorida? Não há receita mágica para lidar com a morte, mas se apenas evitarmos o assunto vamos criando uma visão hostil do que é uma realidade da existência.

Observar a morte como um personagem pode ser uma maneira de trazer certa leveza para facilitar a conversa. O cinema pode ser uma fonte, assim como a literatura. Pensei na Morte do Gato de Botas, no recentemente filme que assistimos em que o menino perdeu o pai, no poema A morte absoluta de Manuel Bandeira que a Isabelly leu por ocasião de uma atividade escolar e fui relembrando outros filmes e livros ...contar minha própria experiência com as mortes dos meus avós...e aproveitar melhor as oportunidades para dialogarmos sobre essa passagem perene da vida. Será uma forma de fertilizar a aridez? Tentarei...

A morte é o fim?  Ou pode ser também um começo?

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sou estrada de saudades no ciclo morte e vida

publicado às 13:10

Viva a renovação da vida

por Ivone Neto, em 14.01.19

Sou primeira filha, neta e bisneta. Minha filha primogênita também. Em pleno estado de graça, em breve dará luz a tataraneta da minha vozinha. Uau. Que geração de mulheres em diferentes estações. A passagem do tempo enveredando as histórias. Olhando a foto da Bruna bebê, imaginando quais traços dela minha neta terá, fico até perplexa com esse salto atemporal dela se tornando mãe e eu avó. Entre memórias, saudades e perspectivas vou tecendo emoções que desabrocham sorrisos, lágrimas e gratidão pelo presente da vida.

E
u me sinto honrada com essa graça. Presenciar a renovação traz a certeza do quando viver é um ciclo de transformação permanente.

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publicado às 14:58

sobre ausência, saudades, vazio, plenitude

por Ivone Neto, em 16.11.18

Ontem a tarde a casa estava cheia. Barulho, risadas, bagunça na sala. Minha Isa, 10 anos, a instrutora da brincadeira. O primo João, o irmão Arthur, os amigos vizinhos Bia e Pedro. E a turma seguiu para piscina, água, sol, nuvens, mergulho. As mães conversando, o irmão lendo. O João foi ensaiando, primeiro as pernas, depois entrou de vez na piscina. Os pingos saltavam dos pulos do Arthur. E quando as nuvens densas e o vento retornaram na tarde do feriado e os lábios roxos surgiram decretamos a descida para os banhos quentes em casa. O Arthur resolveu ir com o João e tio Hique para dormir na casa da vovó Fátima. A Isa ficou um pouco mais e depois foi dormir na casa da amiga vizinha Lele. E ficamos, eu, o pai, o silêncio, o vazio e a saudade. Depois do banho, sentei na rede da varanda com meu amigo livro, sentindo o frescor da noite chegando. Na sala, no andar de baixo, meu marido assistindo ao jogo do seu time. Do céu nublado uma garoa fina nada primaveril. Depois dos capítulos, fechei o livro, os olhos e senti a plenitude da minha companhia. As letras, a história, as sensações, a gratidão do dia. Pensei na complexa e simples mistura da ausência e presença na jornada maternal. E no quanto o ciclo dos encontros e despedidas forma o enredo de nossas vidas. E eu e meu marido rimos juntos depois, de suas tiradas tão cheias de humor.

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publicado às 11:17

Gratidão Raio de Luz

por Ivone Neto, em 17.12.17

Foram 5 anos do Arthur na Raio de Luz. E 4 anos da Isabelly. Eles estiveram juntos lá por 2 anos. E esse ano foi a despedida do menino. Sou extremamente grata por todo carinho e aprendizado que eles receberam de toda equipe da escola. O alfabeto, os números, as lições, as professoras, os projetos, as atividades e os encontros de todo esse período ficarão guardados nas recordações preciosas. Esse especial ambiente escolar que faz parte da história das minhas crianças ficará gravado na memória do livro-coração. A emoção do encerramento da formatura é tão sublime, o riso, as lágrimas, os abraços e o encantamento. Sensações indizíveis. Certamente, um momento ímpar.formaturaRaio.jpg

 

Meu profundo agradecimento. É por isso que indico confiante o trabalho da escola infantil Raio de Luz. Porque presenciei o amor na escola e o AMOR foi, é e continuará sendo a força mais poderosa do universo.

publicado às 12:34

O aniversário da Isa

por Ivone Neto, em 04.07.16

Minha doce Isa, do signo das águas, ela é regida por muita sensibilidade. Seu afeto é acolhedor, marcante. Ela adora celebrar o aniversário na companhia da família e amigos. É cercada de carinho por todos os lados. Ontem, deitadas na cama, conversando sobre sua festa de 8 anos do dia anterior, eu avisei que a partir do ano que vem as festas estão encerradas, agora ela poderá escolher um passeio com 2 amigas. Ela ficou pensativa e disse: “mãe eu adoro festa”. Eu argumento: Sim Isa eu sei, mas podemos planejar outras atividades.

A felicidade da Isa brincando com outras crianças e o carinho da presença amiga é maravilhoso. Foram 8 aniversários da Isa e todas as festas foram especiais. Acredito que tudo tem sua fase. E agora ela começa um novo ciclo. Sim, minha Isa está crescendo.

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As Isas, amigas 

publicado às 18:12

manhã, tarde, noite - dia

por Ivone Neto, em 13.02.09

Dia 09/02/2009
Hoje acordei e o dia ainda estava na penumbra. Dava para vislumbrar a claridade que despontava suavemente no céu.
Senti o frescor da manhã soprando.Olhei a Isa sorrindo por longos minutos e quando contemplei novamente o céu pela janela vi os raios de sol tingindo levemente o horizonte.A luz do amanhecer chegou então com força total clareando o dia com sua luz intensa.

E o dia começa. Ligações, e-mails, atendimentos presenciais, movimento de prosperidade. Nem percebi e já era tarde. Correio, banco e de repente a tarde parece noite com a chuva de verão. Logo ela cessou e o sol voltou com seu brilho dourado para encerrar o dia com seu vermelho alaranjado. Quantas cores num só dia. Isso me fez lembrar de um certo poema:
" ...quantas tardes numa tarde"

Hora do crepúsculo, da Ave Maria. De vez em quando esse horário traz saudade e nostalgia. Mas também sinaliza que em instantes muitas estrelas irão iluminar a noite. E ela chegou.A Isa mamou, dengou, dormiu. A Bruna conversa com amigas, o pai assisti TV e eu transito nesse ambiente familiar com a paz da hora do sono.

Banho, água que limpa, purifica, relaxa, perfuma e prepara o corpo para o descanso. Aconchegada no sofá escrevo...O céu está nublado, as nuvens escondem a Lua Cheia de Áquário e as estrelas cintilantes das constelações celestes. Mas sei que elas estão lá embelezando a noite que começa com uma doce mansidão que afaga meu espírito.

Sagrado ciclo que se reinicia SEMPRE!

publicado às 12:00


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