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Prece de Mãe

por Ivone Neto, em 15.05.25

Sou de uma geração de Mães que rezam. Cresci aprendendo com minhas avós e mãe a rezar pelos nossos. As novenas de Maria e São João da infância seguem fazendo morada em meus sentidos. Não apenas como recordação, como base sólida da minha fé. As renovações que indicam o compromisso de renovar a aliança da devoção numa data com muito significado para cada família. As missas na igreja e a comunhão das orações que edificam nossa fé com os sacramentos e fortalecem nossa jornada na presença de Deus. Mães que rezam são personagens vivas da minha jornada maternal.

Sou devota de Maria, Nossa Senhora de tantos Retratos, a quem consagro e suplico minha tríade de filhos e netos. Quando rezo o Terço e em todos os momentos, na dor, na alegria, sinto o fogo da perseverança acender, invocando a força da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo para abençoar meus passos, clamando aos anjos proteção e a luz do Espírito Santo que os guie no caminho de Deus. Quantas adversidades já enfrentei e o que me sustentou e segue me sustentando é a convicção nas promessas de Deus, que é Pai de infinitas graças e que tanto nos ensina com o exemplo do teu filho Salvador. Não esmorecer nas dificuldades e alimentar a esperança Naquele que nunca nos desampara, é uma lição que pratico.

Sempre ouvi que reza de Mãe é sagrada e miro na caminhada da Mãe Santíssima, que desde o Sim ao projeto de Deus, fez de cada passo de sua gestação até sua coroação, uma história de profundo amor. Quando contemplo os mistérios de cada Terço sinto a grandeza de Maria acompanhando o seu filho. Sua glória é cumprimento da promessa de Deus que nos abençoa com uma Mãe tão divina. Quanta generosidade do Pai que nos concedeu a Bem Aventurada Maria para ser exemplo de Mãe em nossas vidas. Tua Eternidade presente nas tantas Santas que perpetuam tua divindade é bênção que multiplica a Fé.

Agradeço as minhas avós, Mãe e tias, que me ensinaram e seguem testemunhando com suas vidas as graças da devoção Mariana. As minhas filhas Bruna e Isa e ao meu filho Arthur, eu peço que sempre rezem para a Virgem Santíssima que é canal do amor de Deus Uno e Trino, que é intercessora misericordiosa de todos nós, que eleva nossas preces ao Sagrado Coração do seu Filho Jesus Cristo. A Mãe que ouve nossas súplicas, que nos ampara com seu manto e nos encoraja com seus sinais a vencer as dificuldades e confiantes seguir cumprindo nossa missão. Confie na proteção da Mãe do Salvador a quem temos a honra de chamar de Ave Maria Cheia de Graça.

Eu sou testemunha das bênçãos de Nossa Senhora. Tenho atendido seu chamado Mãe Santíssima com a oração do Terço, desse Rosário que em cada Mistério e dezena nos apresenta a história do teu Filho Amado. Não tem como expressar em palavras as sensações que sinto ao rezar, a intensidade da presença de Deus é transformadora. Em cada casa que abre as portas para receber o Terço Mariano eu agradeço. É um momento para convidar as pessoas para serem tocadas pelo Amor de Deus que tem o poder de renovar tantas vidas.

Eu tive medo quando recebi o chamado para rezar o Terço. Pensei em não ser capaz, fazia tantos anos que eu não rezava com frequência. Lembro que 1 ano antes eu participei de 4 Terço, 1 em cada quinta-feira da semana, no mês de Maria, na igreja Santo Antônio perto de casa. No ano seguinte comecei e sigo com simplicidade aprendendo a ouvir essa voz que palpita e me prepara para cada oração, onde o Senhor preparar para que sua palavra se faça lar dos corações. Jesus é a luz que vence as trevas. Ele é o Caminho. Deus é contigo.

Na minha caminhada matinal o rosário está em minhas mãos e passos. Quantas vezes andei com o coração apertado por tribulações e senti a serenidade da resposta de Nossa Senhora. As lágrimas escorrem enquanto os dedos rezam, o vento sopra nomes, as borboletas bailam, as folhas orvalhadas e o céu canta Ave Maria. Gratidão Nossa Senhora. Eu creio nas tuas providências e sou grata por teus ensinamentos que me aproximam cada vez mais do amor de Deus. Sou uma mãe que reza. Mães, rezem. Nossa prece é fortaleza. Viva a sagrada intercessão da Mãe Santíssima. Amém.

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Ave Maria, Cheia de Graça. Gratidão Nossa Senhora

publicado às 12:59

A chegada do bebê

por Ivone Neto, em 05.01.25

Tenho recebido várias perguntas durante esse período da minha viagem missão e aos poucos vou tentando responder no meu Instagram. Uma delas tem a pauta maternal e resolvi também publicar nesse Blog já que o vídeo curto é só um ensaio diante da grandeza do tema. A questão: como é ajudar sua filha a cuidar de um bebê depois de tanto tempo? Sim o tempo aqui também está relacionado com a idade minha e dos meus filhos já que meu caçula completará em breve 13 anos. Sou avó agora da tríade da minha primogênita. Sim, nossa sintonia também é elementar. Então muitas marés já naveguei nesse caminhar maternal. Para começar, cada bebê é um novo recomeço e é impressionante como algumas coisas ficam gravadas e outras esquecemos.

A experiência de acompanhar a chegada da Alise está aflorando tantas memórias da maternidade e a oportunidade de refletir ainda mais sobre como é árduo e incrível ser Mãe. Cheguei na fase final da gestação da Bruna e Alise nasceu na mesma semana, 13/12/24. Lembro do medo que ela citou quando ouviu da médica que o parto já deveria acontecer no dia seguinte. Eu também, mesmo depois de ter passado por dois partos também tive medo quando foi o terceiro. Vamos crescendo, com erros e acertos, com cada fase nossa e dos filhos. A mãe da Peaches não é a mesma do Damian nem da Alise, assim como eu não sou a mesma mãe da Bruna, Isa e Arthur. E talvez por ter sempre um novo ciclo esquecemos de muitos detalhes dos anteriores.

Então vou descrever algumas observações dessas semanas intensas por aqui.

1 - como é difícil amamentar nos primeiros dias. Até pegar o jeito e o ritmo. No meu caso, Bruna e Isa foi mais leve e ligeiro. Arthur nasceu muito pequeno e a dificuldade foi maior. Sem contar que ele nasceu antes e meu leite demorou a vir o que me deixou apavorada. Hoje ele é o maior e foi o que mais mamou. O bico de silicone tem ajudado muito com Alise. A amamentação é importante demais e haja resiliência para atravessar os primeiros dias quando o peito está machucado.

2- como conseguimos dormir tão pouco quando passamos a noite amamentando? Como acordamos ao menor sinal do bebê? Que sintonia sagrada!

3- a paz de segurar o bebê no colo, observar o sono doce, o olhar e o cheiro do bebê, inesquecíveis. Coisa do sentir que enternece o coração.

4- Recordei do som do Sss, a forma de segurar perto do coração, o balanço no colo, sons e movimentos que ajudam acalmar o bebê por lembrar do ventre.

5- o banho relaxa o bebê e escolher um horário ajuda a definir um momento na rotina. A temperatura morna e o brincar na água é acolhedor.

6- como as crianças da casa reagem com a chegada do bebê? É uma adaptação gradativa e exige muita paciência. A atenção partilhada é um desafio porque o bebê tem emergências como amamentar que não dá para adiar. Tentar inseri-los em ações como pegar fralda, roupa ou outros acessórios vai ajudando.

7- eu me lembrei de como as mães aprendem a fazer as tarefas com 1 único braço enquanto o outro segura a bebê. Outra coisa que resgatei na memória, é utilizar a perna para balançar o carrinho enquanto preparava refeição ou outra atividade.

8- Como o momento do nosso banho é relaxante também! Um bálsamo, ainda que seja rápido e com a porta aberta do banheiro. Fiz tanto isso. Lembrei de uma cena da Isa, num dia que ela brincava sozinha tão concentrada e fui tomar banho e fechei a porta e me demorei porque lavei o cabelo. Quando sai ela estava deitada e dormindo no tapete da porta me esperando. Fiquei imaginando que ela dormiu chorando e fiquei desolada. Senti culpa, quem nunca?

9- não sei se aconteceu com vocês, mas o colo é angelical e o berço parece que tem espinhos algumas vezes. A bebê dorme serena no colo, até sorri sonhando com anjos, coloca no berço devagarinho e em segundos vem o choro.

10- crianças na escola, bebê dormindo, você com sono e cansada e um bocado de tarefas te chamando. Comida, roupa, louça e os tantos etcs do cuidado da casa. Dormir ou tentar adiantar alguma coisa? Quando se está sozinha, sem rede de apoio, a escolha é sempre a segunda alternativa. E que a força do além ampare minha filha Bruna porque logo voltarei ao Brasil.

É o AMOR por eles que move os seus passos e eu tenho um orgulho enorme em vê-la navegando nesse oceano desafiante. Como diz em Coríntios 13:13: Estas três coisas continuam para sempre: fé, esperança e amor. E o maior delas é o amor."

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Alise, 13/12/24. Que Santa Luzia te proteja. Amém

publicado às 02:07

Não dou conta, vou tentando

por Ivone Neto, em 22.11.24

Esses dias ouvi: “Quero um dia ser uma mãe desapegada como você.” Talvez eu nem seja tanto assim porque também escuto o oposto: “admiro como você é uma mãe dedicada para seus três filhos, eu não daria conta.” Diria que eu danço entre os extremos e busco um equilíbrio que inexiste na totalidade na jornada maternal. Somos uma Mãe em construção e as mudanças dos nossos ciclos e dos filhos são permanentes.

A primeira frase em resposta as viagens sozinhas dos filhos. A Elo foi esses dias para Aracaju, o caçula foi em julho e irá novamente mês que vem passar férias no sertão pernambucano, a primogênita mora no outro continente e eu viajarei em breve para o nascimento da baby menina, que completará sua tríade, igual a mãe aqui. Sou mãe e avó da dupla tríade, como diz o Galvão: haja coração! Os sacrifícios, demandas, alegrias, dores e amores dessa caminhada maternidade são desafiantes.

A segunda frase sobre minha ida para amparar minha primogênita. A sequência da conversa, como eu consigo conviver com essa saudade da filha e netos, como eu vou aguentar ficar longe dos outros dois durante esse tempo...respostas que não tenho e que vou desenhar no decorrer dos dias vindouros...um olhar lacrimejante junto das palavras amigas me abraçou. Tão bom se sentir tocada por quem te compreende. Eu vou tentando dar conta, eu sangro, eu choro, eu dou muita risada e mergulho no afeto.

Tem muita cobrança de todos os lados sobre a maternidade. Isso é certo, isso é errado, tem que fazer dessa forma, tem que dar atenção a tudo, ser a Mãe Maravilha impossível, escola, alimentação, brincadeiras, passeios e várias receitas prontas que não cabem na vida das mães, podem até orientar, mas cada fase é vivenciada de modo diferente, porque somos singulares embora semelhantes em algumas circunstâncias. Teu jeito e teu colo são únicos, o colo de minha mãe é um, da tia outro, do irmão e irmã, da avó outro ...

Não há características para definir tudo. Ainda que muitas palavras sirvam para nomear isso ou aquilo, nem a soma de várias será capaz de equacionar a dimensão da maternidade. Tenho aversão a rótulos. Eles querem enquadrar tudo em um formato. Padronizar o que não tem como se encaixar em tabelas rígidas. A elasticidade da maternidade é infinita e cada mãe vai enfrentando e aprendendo com os desafios. O que realmente necessitamos é mais respeito, acolhimento e empatia.

Onde encontro apoio? Na partilha com outras mães. Nesse espaço de troca que fortalece essa árdua e incrível estrada. Hoje mesmo é um dia para praticar uma vivência com mães amigas, num encontro despedida que vai me aquecer com o amor sul global para levar na bagagem para o inverno do Norte que me espera. Estou pronta para essa nova travessia? Não. Tenho a coragem para ser ponte e embarcarei inspirada por Coríntios 13:13: “Estas três coisas continuam para sempre: fé, esperança e amor. E o maior deles é o amor."

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benção dos colos, das mães, tia e avós

publicado às 10:45

Despedida dos ciclos

por Ivone Neto, em 31.07.24

A travessia de ciclos acontece em diferentes estações de nossas vidas. Não somos ensinadas e nem ensinamos isso aos nossos filhos, e aqui falo da minha experiência e de pessoas próximas. Acredito que essa lição aconteça em outras famílias e amizades. Tenho refletido sobre variadas questões e essa é uma delas. Os términos causam dores, não é tarefa fácil encarar os sentimentos que eles despertam, porém é uma oportunidade para exercitar a coragem de assumir nossas escolhas.
 
Esse mês Arthur escolheu encerrar sua participação na escola de futebol que frequentou por 6 anos. Eu fiz questão de irmos juntos até lá para conversar com os professores, explicando para meu menino caçula a importância da consideração pelas pessoas e da valorização dos laços que construímos. Mesmo diante da dor da despedida, temos que registrar nossa gratidão pelo tempo de aprendizado e pela dedicação que tiveram conosco durante a jornada de 6 anos. É uma lição que espero ele tenha assimilado para fazer dela uma prática, afinal, a vida é cíclica e chegadas e partidas estarão sempre presentes.

A maternidade é repleta de desafios e apesar da consciência de que tenho muitas falhas, procuro seguir melhorando e ensinando aos meus filhos a relevância do respeito e do afeto como valores fundamentais nas relações. Costumo ouvir que “ninguém faz isso”, não precisa se importar com as pessoas dessa forma. EU não sou os outros, EU sou assim porque sentir é o que mais importa na minha existência. E seguirei fazendo aquilo que toca meu coração.

Registro aqui novamente, minha gratidão a toda equipe do Bem Bolado Cotia, especialmente, aos professores Luiz e Henrique. Parabéns pelo amor ao ofício. Continuem incentivando os valores do esporte na vida de todos.

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Gratidão pelo afeto, aprendizado, gratidão. Que Deus abençoe nossos caminhos

publicado às 19:32

Os netos no sertão

por Ivone Neto, em 26.06.24

Eles do Norte, carregam no DNA o afeto do Sul. Peaches e Damian, meus netos americanos, conheceram sua tataravó em maio deste ano e foi histórico. Eu, a primeira neta de Vozinha com 49, nossa Senhora avó com 99 anos. Sua bisneta Bruna com 30, Peaches 5 e Damian 3. Encontro de gerações. Vivenciamos aquilo que tenho a honra de testemunhar: Sim, o Sertão é o Mundo. E ele habita em sua gente. Onde quer que nossos passos caminhem, nossas raízes seguem palpitando no espírito.

Admirável a interação deles com o universo do sertão. Damian e Peaches cavalgaram, correram atrás das galinhas no terreiro, andaram pelas veredas até o açude, brincaram na rede do alpendre, comeram bem as delícias do fogão a lenha, observaram o céu mais lindo do planeta salpicado de estrelas próximas, partilharam afeto com os primos, tios e tias. Encantaram todos com os abraços carinhosos e “a fala diferente.” Aprenderam o Oxe, Eita e levaram na bagagem tanto amor.

Foram os melhores dias dos últimos tempos. Eles estão tatuados na nossa saudade e na força das recordações e na reza de vozinha que segue nos abençoando. Sou muito grata por pertencer aos Netos, por toda simplicidade, alegria, generosidade e gratidão com que somos recebidos cada vez que cruzamos a porteira do sítio. É um bálsamo sentir-se em casa. Peaches e Damian, ainda que pequenos, foram tocados por essa imensidão de amor.

As fotos registraram algumas cenas. Retratos preciosos de uma viagem inesquecível. As orações de vozinha atravessam fronteiras e nos enlaçam, fecho os olhos e as sinto tocando minha alma na leveza da brisa matinal. As minhas rezas cruzam o Atlântico e estão por lá nas borboletas e janelas que descortinam o verde do jardim e quintal.
Somos estradas de saudades. Somos laços que multiplicam afetos.20240514_155208.jpgAté outro dia Sertão. Voltaremos com a graça de Deus!

publicado às 13:59

Entre corres e pausas, dores e afetos

por Ivone Neto, em 19.09.23

Fico pensando que se o dia tivesse 48 horas, ainda assim teríamos a impressão de que faltaria tempo para todas as atividades, tamanha é a carga das nossas demandas. Sufocadas pela rotina sobrecarregada muitas mulheres estão sendo afetadas pelo burnout. Chegam no esgotamento mental que adoecem. Eu já conversei com tantas mães e notei pelo olhar, fala e gestos, o cansaço exalando. Muitas falando da culpa que sentem por não conseguirem realizar tudo. Conciliar esse mix é complicado e vamos sendo corroídas por medo, culpa, estresse...

Quantas mães depois de enfrentar uma noite mal dormida se levantam cedo para levar a criança na creche e seguir para o trabalho, mesmo o corpo pedindo sono e descanso? Quantas delas são sozinhas nessa tarefa da educação e cuidado com os filhos? Algumas porque realmente não tem companheiro e outras que, mesmo tendo, não contam com essa participação. Salvo algumas exceções, ser Pai é menos árduo que ser Mãe já que o peso maior está em nossos ombros, aliás, em todo corpo.

Uma das situações que vivi retrata bem o que muitas de nós passamos. Certa vez, o ramal da minha colega de sala do trabalho tocou e eu atendi, avisei ao superior do outro lado da linha que ela chegaria mais tarde por conta consulta de pré-natal. Fui levar o contrato do imóvel que ele solicitou e ao me aproximar ouvi sua fala com o outro diretor: “é assim na gravidez, quando a criança nasce é licença e depois vem pediatra, criança que adoece e outros etcs.”

A funcionária a que ele se referia marcava suas consultas no primeiro ou último horário do dia para atrapalhar o mínimo possível o expediente. Quantas mulheres são discriminadas na busca por emprego pelo fato de serem mães? Eu já trabalhei com muitas mães em equipes e nunca conheci profissionais mais comprometidas. Quantas mães não contam com rede de apoio e acabam abandonando seus projetos?

Existe uma pressão de que é função da mãe ser essa “mulher maravilha.” Nos cobram êxito em tudo. Não sei vocês, mas eu não dou conta de ser esse algoritmo da perfeição. Há uma cobrança algoz para sermos excelentes na profissão, na maternidade, nos padrões de beleza, para estarmos sempre exalando felicidade e etcs. Até um robô daria pane com tanta coisa. O sistema entraria em colapso!

Para não colapsar na minha agenda tenho estabelecido pausas dentro dos corres. Atualmente eu tenho o privilégio de trabalhar mais próximo de casa e flexibilidade no expediente. Na pauta tenho trabalho, casa, escola, futebol do caçula e as variáveis que surgem no caminho. O desafio é intercalar o meu cuidado dentro desse enredo. Tenho me esforçado para ampliar as frequências da caminhada, momentos para ler, idas ao clube de livros e o encontro mensal com amigas, sem marido e filhos. Ainda que eu falhe porque imprevistos acontecem, minha meta contínua é ter disciplina com o meu essencial tempo.

E você tem se colocado como prioridade? Sei que é difícil, principalmente para a maioria de nós mulheres/mães. Diante de tanta falta, ser presença para si é um ato de coragem e uma conquista de poucas, mas não deveria ser assim. Esse meu momento de escrita, por exemplo, é uma pausa sagrada para registrar essas percepções que pipocam aqui dentro e que sei são vivenciadas por tantas. Cada uma com seu diferencial, vamos nos encontramos nessa pluralidade da partilha de dores e afetos.

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Os passos que rezam e as folhas da caminhada

publicado às 20:18

O voo da menina

por Ivone Neto, em 25.08.23

Mais cedo do que imaginei, o quarto ficou vazio. Espantou-me a coragem dela, no auge dos seus 14 anos decidir de maneira tão determinada essa mudança. Em nenhum instante ela hesitou durante esse processo de preparação. O desejo que palpitou em seu coração foi ganhando forma e força. A intensidade de cada passo até o dia da partida. Teve despedidas pontuais, orações e abraços. E dia 20/06/23 embarcamos para a jornada divisor de águas, dessas que marcam vidas. Ela completou 15 anos no seu novo quarto, abraçando a oportunidade que escolheu.

Desde 2022 eu a observava avançar em seu objetivo a cada aula de inglês, com o melhor professor do mundo, nas conversas com os professores de sua antiga escola. Sua dedicação nas aulas de inglês prossegue e logo o ano letivo Norte começará. Ela também está tendo aulas de música com um sensacional professor indicado por pessoas especiais. Dessas conexões presentes da vida. Que bênção poder contar com personagens que fazem diferença e tanto nos auxiliam nas conquistas da intensa agenda Sul e Norte.

Seu quarto está vazio e repleto ao mesmo tempo. Contemplo o mapa na parede, os livros da sua estante que ainda não foram enviados, as roupas, o perfume na escrivaninha, os cristais, as canetas e outros elementos que sorriem na sua ausência revelando que sua marca é atemporal. Suas almofadas e pelúcias tem seu cheiro exalando a sensibilidade de quem toca os espaços com uma refinada graça.

Olho para a Nossa Senhora que abençoa a porta do seu antigo quarto e sei que a Mãe Santíssima te acompanha. Abro seu guarda-roupa, que já foi da sua irmã primogênita, para que o vento que sopra da janela circule pelas gavetas e todos os guardados. Sento-me na poltrona abraçada com seu agasalho de Salem e posso sentir a potência da ancestralidade que nos enlaça. A reza da Mãe, da avó e bisavó e de outras que nem conhecemos, vive nessa comunhão da fé e do sentir. Distância e proximidade estão aqui nesse vento que canta saudade e consolida a minha certeza de que a construção de um sonho tem a força do amor.

Agradeço pela acolhida na casa da sua irmã e do Eric, pela alegria dos seus sobrinhos Peaches e Damian com tua presença. Fecho os olhos e sou tocada pela brisa que sopra do mar e passeia pelo jardim e quintal da casa, estou aí nas janelas, no banco, nas plantas, no aroma do alho fritando no azeite e na oração de todos os instantes. Faço morada nos passos na caminhada da praia, na pedra da vovó sentar e rezar ouvindo o canto das ondas. Nessa música da imaginação, lembro das cores do outono que logo chegará por aí e da Primavera por aqui.

Vamos florescendo nos ciclos das estações. Seguirei sendo ninho que incentiva voos. Como sempre disse para a Bruna, nossa proximidade é elementar, é assim também com a Isabelly e Arthur. Minhas preciosas meninas e menino, a estrada é longa, sabemos. Nela a saudade latejará lá e cá, retratando a imensidão do nosso laço. Cada etapa alcançada será precedida por outras e nesse enredo tem adversidades e conquistas. Cultivem a perseverança, a alegria e a fé. Somos alimentadas pela energia sagrada do amor que transcende fronteiras.

Voe Isabelly. É tempo de transmutar e você já é protagonista da sua constelação.

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publicado às 20:21

A morte é o fim?

por Ivone Neto, em 24.05.23

A morte costuma assombrar os viventes. Muitos não ousam falar seu nome e penso que deveríamos ao menos tentar encarar de outra forma, afinal, ele está presente embora represente a ausência. Quando alguém próximo morre um silêncio profundo se acomoda em meus sentidos. Até uma palavra de conforto é difícil pronunciar porque quem a ouve sequer pode escutar nesse momento. Já me peguei em velórios observando as cenas dos abraços e refletindo sobre como esses abraços não existiram no passado da pessoa que está ali no caixão. Disseram-me que passa um filme em nosso momento de partida e fico pensando nos personagens que habitam essa despedida.

A despedida é também de quem fica ainda por um tempo que não temos como estimar. A morte está conosco agora, nesse instante, porque morrer e viver estão entrelaçados. O corpo que vira cinzas ou que vai para debaixo da terra é uma matéria morta que nos chama a olhar para nossa passagem efêmera. Ainda assim tem muito de eterno na morte porque quem vai fica vivo palpitando na saudade dos nossos passos. Tenho tanto dos meus avôs e avó em meu cotidiano. Do riso solto de padrinho-avô, dos cuidados e orações de minha madrinha-avó e dizem que a sensibilidade de vozinho faz morada em minhas ações. Oxalá que sim e que esses retratos se perpetuem nas próximas gerações.

Falar sobre a morte com as crianças é difícil. Ao ver minha tristeza pela morte da Rita Lee, o meu caçula Arthur me abraçou e eu disse que todos nós chegaremos nessa hora. Ele reagiu como a primogênita dizendo que isso não vai acontecer nunca. Não consegui alongar o diálogo, porém sinto que é necessário retomar essa pauta com frequência para ir preparando esse terreno árido que também pode se tornar fértil. Como fertilizar a aridez da morte? É um desafio que me proponho a exercitar, iniciando pelo que a “perda” dos meus avós significou.

Sempre ouvi: perdi minha avó (ou outro ente querido). O eco da palavra perda evidenciando a dor extrema que sentimos. Um pesar de toneladas que cansa nossa estrutura. Até os ossos doem, os músculos inflamam. Sintomas do luto que cada um passa de um jeito e vai moldando os dias até irem suavizando aos poucos. Há quem diga que a ferida segue sangrando para sempre e eu imagino que sim. As minhas seguem cicatrizando. Como fazer essa abordagem da perda que é tão dolorida? Não há receita mágica para lidar com a morte, mas se apenas evitarmos o assunto vamos criando uma visão hostil do que é uma realidade da existência.

Observar a morte como um personagem pode ser uma maneira de trazer certa leveza para facilitar a conversa. O cinema pode ser uma fonte, assim como a literatura. Pensei na Morte do Gato de Botas, no recentemente filme que assistimos em que o menino perdeu o pai, no poema A morte absoluta de Manuel Bandeira que a Isabelly leu por ocasião de uma atividade escolar e fui relembrando outros filmes e livros ...contar minha própria experiência com as mortes dos meus avós...e aproveitar melhor as oportunidades para dialogarmos sobre essa passagem perene da vida. Será uma forma de fertilizar a aridez? Tentarei...

A morte é o fim?  Ou pode ser também um começo?

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sou estrada de saudades no ciclo morte e vida

publicado às 13:10

O diferencial do parabéns

por Ivone Neto, em 26.02.23

Na agenda das mães, as festas infantis figuram no calendário de todos os anos. Aniversários de primos (as) e amigos (as). Do simples bolo em casa aos eventos em salões de festas ou buffet, vamos colecionando encontros desses momentos especiais. Nem sempre conseguimos realizar uma festa e convidar todas as pessoas das nossas relações, em alguns anos já substituímos por experiências, o que tem se tornado frequente para muitas famílias.

“Faz nem que seja um bolinho em casa para não passar em branco.” É uma frase que já ouvi bastante. Celebrar a vida para renovar o renascimento anual é inspirador. Aliás, nem que não seja na data específica, quando definimos um dia para o parabéns e chamamos pessoas queridas para festejar conosco, anunciamos um novo ciclo. Dependendo das circunstâncias nem sempre isso é possível e explicar o motivo é importante para que eles vão aprendendo sobre prioridades e escolhas.

Ontem foi dia de festa de amigos, uma dupla de irmãos de fevereiro que muito estimamos. Observando a foto da Bia pequena no quadro, eu fiquei lembrando outros aniversários dos dois que já participamos. As meninas pulando corda, os meninos jogando bola. E outras brincadeiras das meninas que não cansavam de brincar. Os meninos jogaram tanto, que imagino que alguns estejam como meu Arthur está hoje, exausto. Ele que nunca para, que nunca dorme durante o dia, está num sono profundo.

Programar uma festa com brincadeiras que façam com que todos participem é uma maneira de transformar a comemoração em uma data inesquecível. Contratar monitores para realizar as atividades da festa é uma estratégica que auxilia os pais e convidados a também curtirem o aniversário. Ontem fiquei observando as crianças brincarem e pensando que vale o esforço para reuni-las e cultivar essas memórias. O tempo anda ligeiro, mudanças acontecem e logo mais a comemoração terá um novo roteiro.

Fiquei refletindo sobre as festas que já fiz em casa, com muitos correndo pela sala, brinquedos espalhados por todos os cantos, bexigas estouradas, riso e choro na hora das tretas, sim porque eles brigam também, das chegadas e partidas dos convidados, dos bolos e temas, das lembrancinhas, dos churrascos e da alegria na hora de cantar os parabéns. Os presentes nem existem mais, já foram todos doados, mas tenho certeza de que na memória deles e nossas, a presença de quem veio ficou marcada. E presença é o que faz diferença em nossas vidas.

arthur4anos.jpg
um retrato de saudade. Aniversário Arthur com a família reunida. 2016aniversario2022.jpg
2022: Aniversário Peaches, Damian, Arthur e Bruna. Gerações reunida

publicado às 17:18

o gosto do mar das emoções

por Ivone Neto, em 09.12.19

As últimas semanas foram intensas. Novembro emendando com dezembro reservou muitas emoções no calendário dos dias que seguirão se perpetuando nas memórias afetivas.  Há anos eu não chorava tanto. Estou tão agradecida por ter cumprido minha maior missão do ano. Visitar minha filha e conhecer minha neta e sua família de lá foi um grande presente recheado de tantos abraços, cheiros, risadas e lágrimas. Eu escrevi um caderninho com gotas de lágrimas pingando, sentido o sal do mar escorrendo em minha face como chuva das gotas de orvalho. Em silêncio, depois da escrita, eu contemplava o amanhecer da janela da cozinha enquanto eu fazia o café. E nela se descortina um mar de saudades.

Se tem um sentimento que marca minha jornada maternal é a saudade. Tenho uma filha que mora distante, fazia 3 anos e 6 meses que não nos víamos. Ah sentir seu cheiro e vê-la mãe da Peaches foi uma bênção. Quanta alegria. Observar a alegria da minha Isa, a filha do meio, na companhia da irmã mais velha, conversando, aprendendo, rindo e chorando juntas...cenas que ficarão gravadas para sempre em meu livro coração. As palavras embargavam e a escrita, como sempre, me ajudou a registrar nuances do que senti. E o caderno vivo permanece com novas páginas a serem escritas. E eu cheguei chorando no reencontro com meu caçula e com a missão de ler a carta para o Pai. E na leitura compartilhada, entre soluços, pausas e abraços de todos, a casa foi agraciada com a pureza dos sentimentos que lavam e tocam a alma.

Gratidão ao Sol que brilhou, a neve que caiu, a chuva que molhou a terra e se juntou ao rio de lágrimas das emoções fortes que transbordam. As lembranças tão vivas ardem no cotidiano. E daqui do hemisfério Sul emano calor para o frio do Norte, numa fogueira de saudade que retrata a fortaleza do Amor que nos une.

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a grandeza do Amor dessa imagem é indizível. É coisa do sentir!

 

publicado às 17:50


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