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Meu Blog Maternidade. Aqui vou registrando meu aprendizado do cotidiano de mãe. Minhas percepções, desafios, emoções, acontecimentos e sensações únicas da minha jornada maternal. Tenho duas filhas e um filho, três sementes, frutos, presentes AMOR
A travessia de ciclos acontece em diferentes estações de nossas vidas. Não somos ensinadas e nem ensinamos isso aos nossos filhos, e aqui falo da minha experiência e de pessoas próximas. Acredito que essa lição aconteça em outras famílias e amizades. Tenho refletido sobre variadas questões e essa é uma delas. Os términos causam dores, não é tarefa fácil encarar os sentimentos que eles despertam, porém é uma oportunidade para exercitar a coragem de assumir nossas escolhas.
Esse mês Arthur escolheu encerrar sua participação na escola de futebol que frequentou por 6 anos. Eu fiz questão de irmos juntos até lá para conversar com os professores, explicando para meu menino caçula a importância da consideração pelas pessoas e da valorização dos laços que construímos. Mesmo diante da dor da despedida, temos que registrar nossa gratidão pelo tempo de aprendizado e pela dedicação que tiveram conosco durante a jornada de 6 anos. É uma lição que espero ele tenha assimilado para fazer dela uma prática, afinal, a vida é cíclica e chegadas e partidas estarão sempre presentes.
A maternidade é repleta de desafios e apesar da consciência de que tenho muitas falhas, procuro seguir melhorando e ensinando aos meus filhos a relevância do respeito e do afeto como valores fundamentais nas relações. Costumo ouvir que “ninguém faz isso”, não precisa se importar com as pessoas dessa forma. EU não sou os outros, EU sou assim porque sentir é o que mais importa na minha existência. E seguirei fazendo aquilo que toca meu coração.
Registro aqui novamente, minha gratidão a toda equipe do Bem Bolado Cotia, especialmente, aos professores Luiz e Henrique. Parabéns pelo amor ao ofício. Continuem incentivando os valores do esporte na vida de todos.
Gratidão pelo afeto, aprendizado, gratidão. Que Deus abençoe nossos caminhos
Eles do Norte, carregam no DNA o afeto do Sul. Peaches e Damian, meus netos americanos, conheceram sua tataravó em maio deste ano e foi histórico. Eu, a primeira neta de Vozinha com 49, nossa Senhora avó com 99 anos. Sua bisneta Bruna com 30, Peaches 5 e Damian 3. Encontro de gerações. Vivenciamos aquilo que tenho a honra de testemunhar: Sim, o Sertão é o Mundo. E ele habita em sua gente. Onde quer que nossos passos caminhem, nossas raízes seguem palpitando no espírito.
Admirável a interação deles com o universo do sertão. Damian e Peaches cavalgaram, correram atrás das galinhas no terreiro, andaram pelas veredas até o açude, brincaram na rede do alpendre, comeram bem as delícias do fogão a lenha, observaram o céu mais lindo do planeta salpicado de estrelas próximas, partilharam afeto com os primos, tios e tias. Encantaram todos com os abraços carinhosos e “a fala diferente.” Aprenderam o Oxe, Eita e levaram na bagagem tanto amor.
Foram os melhores dias dos últimos tempos. Eles estão tatuados na nossa saudade e na força das recordações e na reza de vozinha que segue nos abençoando. Sou muito grata por pertencer aos Netos, por toda simplicidade, alegria, generosidade e gratidão com que somos recebidos cada vez que cruzamos a porteira do sítio. É um bálsamo sentir-se em casa. Peaches e Damian, ainda que pequenos, foram tocados por essa imensidão de amor.
As fotos registraram algumas cenas. Retratos preciosos de uma viagem inesquecível. As orações de vozinha atravessam fronteiras e nos enlaçam, fecho os olhos e as sinto tocando minha alma na leveza da brisa matinal. As minhas rezas cruzam o Atlântico e estão por lá nas borboletas e janelas que descortinam o verde do jardim e quintal.
Somos estradas de saudades. Somos laços que multiplicam afetos.Até outro dia Sertão. Voltaremos com a graça de Deus!
Fico pensando que se o dia tivesse 48 horas, ainda assim teríamos a impressão de que faltaria tempo para todas as atividades, tamanha é a carga das nossas demandas. Sufocadas pela rotina sobrecarregada muitas mulheres estão sendo afetadas pelo burnout. Chegam no esgotamento mental que adoecem. Eu já conversei com tantas mães e notei pelo olhar, fala e gestos, o cansaço exalando. Muitas falando da culpa que sentem por não conseguirem realizar tudo. Conciliar esse mix é complicado e vamos sendo corroídas por medo, culpa, estresse...
Quantas mães depois de enfrentar uma noite mal dormida se levantam cedo para levar a criança na creche e seguir para o trabalho, mesmo o corpo pedindo sono e descanso? Quantas delas são sozinhas nessa tarefa da educação e cuidado com os filhos? Algumas porque realmente não tem companheiro e outras que, mesmo tendo, não contam com essa participação. Salvo algumas exceções, ser Pai é menos árduo que ser Mãe já que o peso maior está em nossos ombros, aliás, em todo corpo.
Uma das situações que vivi retrata bem o que muitas de nós passamos. Certa vez, o ramal da minha colega de sala do trabalho tocou e eu atendi, avisei ao superior do outro lado da linha que ela chegaria mais tarde por conta consulta de pré-natal. Fui levar o contrato do imóvel que ele solicitou e ao me aproximar ouvi sua fala com o outro diretor: “é assim na gravidez, quando a criança nasce é licença e depois vem pediatra, criança que adoece e outros etcs.”
A funcionária a que ele se referia marcava suas consultas no primeiro ou último horário do dia para atrapalhar o mínimo possível o expediente. Quantas mulheres são discriminadas na busca por emprego pelo fato de serem mães? Eu já trabalhei com muitas mães em equipes e nunca conheci profissionais mais comprometidas. Quantas mães não contam com rede de apoio e acabam abandonando seus projetos?
Existe uma pressão de que é função da mãe ser essa “mulher maravilha.” Nos cobram êxito em tudo. Não sei vocês, mas eu não dou conta de ser esse algoritmo da perfeição. Há uma cobrança algoz para sermos excelentes na profissão, na maternidade, nos padrões de beleza, para estarmos sempre exalando felicidade e etcs. Até um robô daria pane com tanta coisa. O sistema entraria em colapso!
Para não colapsar na minha agenda tenho estabelecido pausas dentro dos corres. Atualmente eu tenho o privilégio de trabalhar mais próximo de casa e flexibilidade no expediente. Na pauta tenho trabalho, casa, escola, futebol do caçula e as variáveis que surgem no caminho. O desafio é intercalar o meu cuidado dentro desse enredo. Tenho me esforçado para ampliar as frequências da caminhada, momentos para ler, idas ao clube de livros e o encontro mensal com amigas, sem marido e filhos. Ainda que eu falhe porque imprevistos acontecem, minha meta contínua é ter disciplina com o meu essencial tempo.
E você tem se colocado como prioridade? Sei que é difícil, principalmente para a maioria de nós mulheres/mães. Diante de tanta falta, ser presença para si é um ato de coragem e uma conquista de poucas, mas não deveria ser assim. Esse meu momento de escrita, por exemplo, é uma pausa sagrada para registrar essas percepções que pipocam aqui dentro e que sei são vivenciadas por tantas. Cada uma com seu diferencial, vamos nos encontramos nessa pluralidade da partilha de dores e afetos.
Os passos que rezam e as folhas da caminhada
Mais cedo do que imaginei, o quarto ficou vazio. Espantou-me a coragem dela, no auge dos seus 14 anos decidir de maneira tão determinada essa mudança. Em nenhum instante ela hesitou durante esse processo de preparação. O desejo que palpitou em seu coração foi ganhando forma e força. A intensidade de cada passo até o dia da partida. Teve despedidas pontuais, orações e abraços. E dia 20/06/23 embarcamos para a jornada divisor de águas, dessas que marcam vidas. Ela completou 15 anos no seu novo quarto, abraçando a oportunidade que escolheu.
Desde 2022 eu a observava avançar em seu objetivo a cada aula de inglês, com o melhor professor do mundo, nas conversas com os professores de sua antiga escola. Sua dedicação nas aulas de inglês prossegue e logo o ano letivo Norte começará. Ela também está tendo aulas de música com um sensacional professor indicado por pessoas especiais. Dessas conexões presentes da vida. Que bênção poder contar com personagens que fazem diferença e tanto nos auxiliam nas conquistas da intensa agenda Sul e Norte.
Seu quarto está vazio e repleto ao mesmo tempo. Contemplo o mapa na parede, os livros da sua estante que ainda não foram enviados, as roupas, o perfume na escrivaninha, os cristais, as canetas e outros elementos que sorriem na sua ausência revelando que sua marca é atemporal. Suas almofadas e pelúcias tem seu cheiro exalando a sensibilidade de quem toca os espaços com uma refinada graça.
Olho para a Nossa Senhora que abençoa a porta do seu antigo quarto e sei que a Mãe Santíssima te acompanha. Abro seu guarda-roupa, que já foi da sua irmã primogênita, para que o vento que sopra da janela circule pelas gavetas e todos os guardados. Sento-me na poltrona abraçada com seu agasalho de Salem e posso sentir a potência da ancestralidade que nos enlaça. A reza da Mãe, da avó e bisavó e de outras que nem conhecemos, vive nessa comunhão da fé e do sentir. Distância e proximidade estão aqui nesse vento que canta saudade e consolida a minha certeza de que a construção de um sonho tem a força do amor.
Agradeço pela acolhida na casa da sua irmã e do Eric, pela alegria dos seus sobrinhos Peaches e Damian com tua presença. Fecho os olhos e sou tocada pela brisa que sopra do mar e passeia pelo jardim e quintal da casa, estou aí nas janelas, no banco, nas plantas, no aroma do alho fritando no azeite e na oração de todos os instantes. Faço morada nos passos na caminhada da praia, na pedra da vovó sentar e rezar ouvindo o canto das ondas. Nessa música da imaginação, lembro das cores do outono que logo chegará por aí e da Primavera por aqui.
Vamos florescendo nos ciclos das estações. Seguirei sendo ninho que incentiva voos. Como sempre disse para a Bruna, nossa proximidade é elementar, é assim também com a Isabelly e Arthur. Minhas preciosas meninas e menino, a estrada é longa, sabemos. Nela a saudade latejará lá e cá, retratando a imensidão do nosso laço. Cada etapa alcançada será precedida por outras e nesse enredo tem adversidades e conquistas. Cultivem a perseverança, a alegria e a fé. Somos alimentadas pela energia sagrada do amor que transcende fronteiras.
Voe Isabelly. É tempo de transmutar e você já é protagonista da sua constelação.
A morte costuma assombrar os viventes. Muitos não ousam falar seu nome e penso que deveríamos ao menos tentar encarar de outra forma, afinal, ele está presente embora represente a ausência. Quando alguém próximo morre um silêncio profundo se acomoda em meus sentidos. Até uma palavra de conforto é difícil pronunciar porque quem a ouve sequer pode escutar nesse momento. Já me peguei em velórios observando as cenas dos abraços e refletindo sobre como esses abraços não existiram no passado da pessoa que está ali no caixão. Disseram-me que passa um filme em nosso momento de partida e fico pensando nos personagens que habitam essa despedida.
A despedida é também de quem fica ainda por um tempo que não temos como estimar. A morte está conosco agora, nesse instante, porque morrer e viver estão entrelaçados. O corpo que vira cinzas ou que vai para debaixo da terra é uma matéria morta que nos chama a olhar para nossa passagem efêmera. Ainda assim tem muito de eterno na morte porque quem vai fica vivo palpitando na saudade dos nossos passos. Tenho tanto dos meus avôs e avó em meu cotidiano. Do riso solto de padrinho-avô, dos cuidados e orações de minha madrinha-avó e dizem que a sensibilidade de vozinho faz morada em minhas ações. Oxalá que sim e que esses retratos se perpetuem nas próximas gerações.
Falar sobre a morte com as crianças é difícil. Ao ver minha tristeza pela morte da Rita Lee, o meu caçula Arthur me abraçou e eu disse que todos nós chegaremos nessa hora. Ele reagiu como a primogênita dizendo que isso não vai acontecer nunca. Não consegui alongar o diálogo, porém sinto que é necessário retomar essa pauta com frequência para ir preparando esse terreno árido que também pode se tornar fértil. Como fertilizar a aridez da morte? É um desafio que me proponho a exercitar, iniciando pelo que a “perda” dos meus avós significou.
Sempre ouvi: perdi minha avó (ou outro ente querido). O eco da palavra perda evidenciando a dor extrema que sentimos. Um pesar de toneladas que cansa nossa estrutura. Até os ossos doem, os músculos inflamam. Sintomas do luto que cada um passa de um jeito e vai moldando os dias até irem suavizando aos poucos. Há quem diga que a ferida segue sangrando para sempre e eu imagino que sim. As minhas seguem cicatrizando. Como fazer essa abordagem da perda que é tão dolorida? Não há receita mágica para lidar com a morte, mas se apenas evitarmos o assunto vamos criando uma visão hostil do que é uma realidade da existência.
Observar a morte como um personagem pode ser uma maneira de trazer certa leveza para facilitar a conversa. O cinema pode ser uma fonte, assim como a literatura. Pensei na Morte do Gato de Botas, no recentemente filme que assistimos em que o menino perdeu o pai, no poema A morte absoluta de Manuel Bandeira que a Isabelly leu por ocasião de uma atividade escolar e fui relembrando outros filmes e livros ...contar minha própria experiência com as mortes dos meus avós...e aproveitar melhor as oportunidades para dialogarmos sobre essa passagem perene da vida. Será uma forma de fertilizar a aridez? Tentarei...
A morte é o fim? Ou pode ser também um começo?
sou estrada de saudades no ciclo morte e vida
Na agenda das mães, as festas infantis figuram no calendário de todos os anos. Aniversários de primos (as) e amigos (as). Do simples bolo em casa aos eventos em salões de festas ou buffet, vamos colecionando encontros desses momentos especiais. Nem sempre conseguimos realizar uma festa e convidar todas as pessoas das nossas relações, em alguns anos já substituímos por experiências, o que tem se tornado frequente para muitas famílias.
“Faz nem que seja um bolinho em casa para não passar em branco.” É uma frase que já ouvi bastante. Celebrar a vida para renovar o renascimento anual é inspirador. Aliás, nem que não seja na data específica, quando definimos um dia para o parabéns e chamamos pessoas queridas para festejar conosco, anunciamos um novo ciclo. Dependendo das circunstâncias nem sempre isso é possível e explicar o motivo é importante para que eles vão aprendendo sobre prioridades e escolhas.
Ontem foi dia de festa de amigos, uma dupla de irmãos de fevereiro que muito estimamos. Observando a foto da Bia pequena no quadro, eu fiquei lembrando outros aniversários dos dois que já participamos. As meninas pulando corda, os meninos jogando bola. E outras brincadeiras das meninas que não cansavam de brincar. Os meninos jogaram tanto, que imagino que alguns estejam como meu Arthur está hoje, exausto. Ele que nunca para, que nunca dorme durante o dia, está num sono profundo.
Programar uma festa com brincadeiras que façam com que todos participem é uma maneira de transformar a comemoração em uma data inesquecível. Contratar monitores para realizar as atividades da festa é uma estratégica que auxilia os pais e convidados a também curtirem o aniversário. Ontem fiquei observando as crianças brincarem e pensando que vale o esforço para reuni-las e cultivar essas memórias. O tempo anda ligeiro, mudanças acontecem e logo mais a comemoração terá um novo roteiro.
Fiquei refletindo sobre as festas que já fiz em casa, com muitos correndo pela sala, brinquedos espalhados por todos os cantos, bexigas estouradas, riso e choro na hora das tretas, sim porque eles brigam também, das chegadas e partidas dos convidados, dos bolos e temas, das lembrancinhas, dos churrascos e da alegria na hora de cantar os parabéns. Os presentes nem existem mais, já foram todos doados, mas tenho certeza de que na memória deles e nossas, a presença de quem veio ficou marcada. E presença é o que faz diferença em nossas vidas.
um retrato de saudade. Aniversário Arthur com a família reunida. 2016
2022: Aniversário Peaches, Damian, Arthur e Bruna. Gerações reunida
As últimas semanas foram intensas. Novembro emendando com dezembro reservou muitas emoções no calendário dos dias que seguirão se perpetuando nas memórias afetivas. Há anos eu não chorava tanto. Estou tão agradecida por ter cumprido minha maior missão do ano. Visitar minha filha e conhecer minha neta e sua família de lá foi um grande presente recheado de tantos abraços, cheiros, risadas e lágrimas. Eu escrevi um caderninho com gotas de lágrimas pingando, sentido o sal do mar escorrendo em minha face como chuva das gotas de orvalho. Em silêncio, depois da escrita, eu contemplava o amanhecer da janela da cozinha enquanto eu fazia o café. E nela se descortina um mar de saudades.
Se tem um sentimento que marca minha jornada maternal é a saudade. Tenho uma filha que mora distante, fazia 3 anos e 6 meses que não nos víamos. Ah sentir seu cheiro e vê-la mãe da Peaches foi uma bênção. Quanta alegria. Observar a alegria da minha Isa, a filha do meio, na companhia da irmã mais velha, conversando, aprendendo, rindo e chorando juntas...cenas que ficarão gravadas para sempre em meu livro coração. As palavras embargavam e a escrita, como sempre, me ajudou a registrar nuances do que senti. E o caderno vivo permanece com novas páginas a serem escritas. E eu cheguei chorando no reencontro com meu caçula e com a missão de ler a carta para o Pai. E na leitura compartilhada, entre soluços, pausas e abraços de todos, a casa foi agraciada com a pureza dos sentimentos que lavam e tocam a alma.
Gratidão ao Sol que brilhou, a neve que caiu, a chuva que molhou a terra e se juntou ao rio de lágrimas das emoções fortes que transbordam. As lembranças tão vivas ardem no cotidiano. E daqui do hemisfério Sul emano calor para o frio do Norte, numa fogueira de saudade que retrata a fortaleza do Amor que nos une.
a grandeza do Amor dessa imagem é indizível. É coisa do sentir!
Dias ligeiros, dias longos
Extremidades do tempo
cruzando o continente das emoções
navegando nos roteiros dos laços
voando nas constelações do Amor
que expande todos os caminhos
E no meu particular, eu vou andando
e construindo minha velha nova estrada
com retratos de saudade, saudade, saudadesss...
cenário e passos da minha história
O trecho é curto. De 6 a 8 km no máximo. Torna-se longo pelo trânsito. Muitas pessoas saindo de casa no mesmo horário. Ando pensando seriamente em mudar essa logística. Vamos por um caminho alternativo ao principal, pelo bairro, observando da janela o movimento da manhã, ponto de ônibus cheio, Butantã, Pinheiros, Barra Funda, Alphaville, Centro Osasco, Vila Yara. Uns vão ao trabalho, outros estudar, e tantos outros compromissos. Escolas no caminho, mães, crianças, adolescentes, cachorros, mochilas. As motos seguem. O Arthur diz: “mãe quero andar na moto vermelha.” A Isa começa a cantar e o som das risadas inunda meu coração. O Arthur vibra porque passou cachorro do lado dele do carro (sim, rola umas brigas pelo lado do carro dependendo do cenário). Toca uma música no rádio. Isa diz: que música feia. Arthur já começa dançar. Depois é o momento das caretas e eu entro na dança também. Tem que participar da vida.
O Pai, que está gripado, segue dirigindo, com aquele ar de “poucos amigos”, quando tosse ou espirra faz uma cara que assusta qualquer mortal. Ou, como diz minha amiga Carla, citando seu marido quando está simplesmente gripado “parece que está em estado terminal”. Gente, ninguém merece marido doente! A Bruna com seu fone de ouvido, escuta suas canções e segue contemplando o céu. De vez em quando as crianças a cutucam e ela responde com um sorriso. Vejo uma borboleta azul brincando nas flores amarelas e lembro de uma que vi no sítio.
Chegamos à primeira parada, escola do Arthur e ele desce animado, sorridente, cheio de energia. Depois casa tia Lane deixar a Isa que já chegou mostrando o tênis novo que comprou na promoção (só estava com um). “Mãe quando suja um tem que ter outro para usar”. Sim, seu argumento me convenceu e a vó Fátima foi com ela ontem comprar outro. Nem sempre dá pra lavar e secar rápido. Abraço apertado e até o final do dia. Até que enfim trabalho. Hoje demoramos 40 minutos.
É assim que chamo meus filhos. Sou mãe de 2 meninas e 1 menino. Tudo bem que a primeira primogênita já é uma mulher, mas, sempre será aquela menina de olhar profundo e sorriso aberto que adorava dormir no meu colo. Aliás, dormir é quase sinônimo dela. Ela é aquela aventureira que adora viajar e que sente saudade do cheiro do café da mãe. Tem raízes e asas entrelaçadas, é enigmática por essência. A segunda, a planejada, a do meio, é minha menina das águas, ágil, inteligente, ama com intensidade, ela tem uma sensibilidade aflorada, tem gosto por miudezas e uma proximidade tão ampla com quem toca seu coração que, ao mesmo tempo em que impressiona por tamanho amor, assusta quando por segundos pensamos em certas ausências e mudanças que farão, inevitavelmente, parte da sua caminhada. O terceiro é o menino mais alegre que eu tenha notícia, com energia vital que contagia, seu olhar brilha como fogo de luz, por onde passa vai deixando sua estrela cativante inundar os ambientes, e tem o cafuné mais carinhoso do mundo. Ele veio para sacudir meu cotidiano e fazer com que eu arranque forças do além. Cada um com sua beleza, seu ritmo e seus passos. Que eu possa ter a graça de continuar acompanhando com muita alegria e aprendizado essa jornada maternal.
Minha tríade sagrada
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