Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Meu Blog Maternidade. Aqui vou registrando meu aprendizado do cotidiano de mãe. Minhas percepções, desafios, emoções, acontecimentos e sensações únicas da minha jornada maternal. Tenho duas filhas e um filho, três sementes, frutos, presentes AMOR
Tenho 1 filha do século passado, com 30 anos. Outra com 16 e outro com 12, do século contemporâneo. São enormes as diferenças da infância dos menores, nem tão pequenos assim hoje, com a da primogênita. Se eu pensar na infância dos meus netos, a distinção é ainda maior. Sim, eu já sou avó de Peaches, Damian e da bebê menina que chegará em breve. Esses dias recebi um vídeo dos netos brincando na praia e fiquei refletindo sobre aspectos que enlaçam e diferenciam essas gerações.
Minha filha mais velha brincou muito na calçada, andou de bicicleta pelas ruas do bairro, adorava a pequena piscina de plástico que refrescava os verões paulistas, na companhia do seu tio irmão Henrique e amigo Higor. Isa e Arthur desconhecem o que é brincar na rua, a não ser quando viajam para algum lugar tranquilo, cresceram nos muros de um condomínio, brincavam no playground, jogavam bola na quadra. Assim como fiz com a Bruna, eu os levo para andar de transporte público. Sei de crianças e adolescentes que nunca andaram de trem, metrô ou ônibus.
Há realidades bem distintas na desigualdade social do nosso país. E isso influencia a infância, adolescência e vida adulta, ontem, hoje e amanhã. Eu já morei em periferia, conheço e convivo com pessoas de lá, e sei das dificuldades que elas enfrentam. A falta de lazer e de dinheiro para ir em parques e atividades culturais é recorrente. Infelizmente, para muitas famílias, até o básico é ausência. Investir em projetos de esporte, lazer e cultura para todos, contribuirá para melhorar o aprendizado e a qualidade de vida de todas as gerações.
Voltando ao vídeo dos netos, agradeci a dádiva deles morarem perto da natureza, de terem a possibilidade de brincar com segurança no quintal e na rua. Apesar de estar na lei, a presença de ações que garantam as crianças o que ela rege, está bem distante em muitos países. Guardada a gigante distinção dos cenários daqui e de lá, ver meus netos brincando na rua como minha primogênita brincou, acende minha esperança. Recordei do esforço que fiz para levar a Bruna ao teatro, biblioteca e lembro dos seus olhos brilhando com a magia da arte. Nunca vou esquecer da sua alegria ao ver as luzes de Natal. Memórias que seguem vivas.
Meu Arthur ama futebol e já foi em vários estádios. A Isa aprecia, talvez não tanto como eu, livrarias e passeios culturais e já visitou alguns ícones da capital paulista. Seguirei incentivando que eles vivam a cidade, procurem se conectar com as expressões artísticas que tanto ensinam, observar o movimento das ruas e seus personagens. Para fugir desse mundo cercado, da tela pequena do celular e vivenciar o grande telão que é a cidade. Já ouvi que eu tenho é coragem de andar com eles assim. Que eu permaneça tendo.
Há muita transformação nesse ciclo do tempo, no entanto, a alegria autêntica e o encantamento mágico que as experiências despertam, seguirá perene em muitas gerações. Oxalá que elas sejam cada vez mais presentes.
amores da vovó. Saudades
Eles do Norte, carregam no DNA o afeto do Sul. Peaches e Damian, meus netos americanos, conheceram sua tataravó em maio deste ano e foi histórico. Eu, a primeira neta de Vozinha com 49, nossa Senhora avó com 99 anos. Sua bisneta Bruna com 30, Peaches 5 e Damian 3. Encontro de gerações. Vivenciamos aquilo que tenho a honra de testemunhar: Sim, o Sertão é o Mundo. E ele habita em sua gente. Onde quer que nossos passos caminhem, nossas raízes seguem palpitando no espírito.
Admirável a interação deles com o universo do sertão. Damian e Peaches cavalgaram, correram atrás das galinhas no terreiro, andaram pelas veredas até o açude, brincaram na rede do alpendre, comeram bem as delícias do fogão a lenha, observaram o céu mais lindo do planeta salpicado de estrelas próximas, partilharam afeto com os primos, tios e tias. Encantaram todos com os abraços carinhosos e “a fala diferente.” Aprenderam o Oxe, Eita e levaram na bagagem tanto amor.
Foram os melhores dias dos últimos tempos. Eles estão tatuados na nossa saudade e na força das recordações e na reza de vozinha que segue nos abençoando. Sou muito grata por pertencer aos Netos, por toda simplicidade, alegria, generosidade e gratidão com que somos recebidos cada vez que cruzamos a porteira do sítio. É um bálsamo sentir-se em casa. Peaches e Damian, ainda que pequenos, foram tocados por essa imensidão de amor.
As fotos registraram algumas cenas. Retratos preciosos de uma viagem inesquecível. As orações de vozinha atravessam fronteiras e nos enlaçam, fecho os olhos e as sinto tocando minha alma na leveza da brisa matinal. As minhas rezas cruzam o Atlântico e estão por lá nas borboletas e janelas que descortinam o verde do jardim e quintal.
Somos estradas de saudades. Somos laços que multiplicam afetos.Até outro dia Sertão. Voltaremos com a graça de Deus!
A morte costuma assombrar os viventes. Muitos não ousam falar seu nome e penso que deveríamos ao menos tentar encarar de outra forma, afinal, ele está presente embora represente a ausência. Quando alguém próximo morre um silêncio profundo se acomoda em meus sentidos. Até uma palavra de conforto é difícil pronunciar porque quem a ouve sequer pode escutar nesse momento. Já me peguei em velórios observando as cenas dos abraços e refletindo sobre como esses abraços não existiram no passado da pessoa que está ali no caixão. Disseram-me que passa um filme em nosso momento de partida e fico pensando nos personagens que habitam essa despedida.
A despedida é também de quem fica ainda por um tempo que não temos como estimar. A morte está conosco agora, nesse instante, porque morrer e viver estão entrelaçados. O corpo que vira cinzas ou que vai para debaixo da terra é uma matéria morta que nos chama a olhar para nossa passagem efêmera. Ainda assim tem muito de eterno na morte porque quem vai fica vivo palpitando na saudade dos nossos passos. Tenho tanto dos meus avôs e avó em meu cotidiano. Do riso solto de padrinho-avô, dos cuidados e orações de minha madrinha-avó e dizem que a sensibilidade de vozinho faz morada em minhas ações. Oxalá que sim e que esses retratos se perpetuem nas próximas gerações.
Falar sobre a morte com as crianças é difícil. Ao ver minha tristeza pela morte da Rita Lee, o meu caçula Arthur me abraçou e eu disse que todos nós chegaremos nessa hora. Ele reagiu como a primogênita dizendo que isso não vai acontecer nunca. Não consegui alongar o diálogo, porém sinto que é necessário retomar essa pauta com frequência para ir preparando esse terreno árido que também pode se tornar fértil. Como fertilizar a aridez da morte? É um desafio que me proponho a exercitar, iniciando pelo que a “perda” dos meus avós significou.
Sempre ouvi: perdi minha avó (ou outro ente querido). O eco da palavra perda evidenciando a dor extrema que sentimos. Um pesar de toneladas que cansa nossa estrutura. Até os ossos doem, os músculos inflamam. Sintomas do luto que cada um passa de um jeito e vai moldando os dias até irem suavizando aos poucos. Há quem diga que a ferida segue sangrando para sempre e eu imagino que sim. As minhas seguem cicatrizando. Como fazer essa abordagem da perda que é tão dolorida? Não há receita mágica para lidar com a morte, mas se apenas evitarmos o assunto vamos criando uma visão hostil do que é uma realidade da existência.
Observar a morte como um personagem pode ser uma maneira de trazer certa leveza para facilitar a conversa. O cinema pode ser uma fonte, assim como a literatura. Pensei na Morte do Gato de Botas, no recentemente filme que assistimos em que o menino perdeu o pai, no poema A morte absoluta de Manuel Bandeira que a Isabelly leu por ocasião de uma atividade escolar e fui relembrando outros filmes e livros ...contar minha própria experiência com as mortes dos meus avós...e aproveitar melhor as oportunidades para dialogarmos sobre essa passagem perene da vida. Será uma forma de fertilizar a aridez? Tentarei...
A morte é o fim? Ou pode ser também um começo?
sou estrada de saudades no ciclo morte e vida
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.